terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Ana Carolina 25 Anos: Um Espetáculo Impecável que Ainda Busca Calor Humano

Texto e Fotos: Cássio Toledo / Na Ponta da Agulha
A noite de 12 de dezembro, no Teatro do Bourbon Country, consolidou mais um capítulo da turnê “25 Anas”, celebrando a trajetória de um dos nomes mais importantes da Música Brasileira Contemporânea.
O show teve a produção da *Opus Entretenimento* e direção cênica de *Jorge Fajalla, apresentando uma estrutura robusta, visualmente marcante, e um passeio completo pelos principais clássicos da carreira de Ana Carolina — dos sucessos que a projetaram no final dos anos 1990 às novas explorações rítmicas que caracterizam seu mais recente EP, “Ainda Já”, lançado este ano.
*Entre clássicos, novidades e a estética forte da turnê*
O espetáculo revisita com precisão a discografia da artista, incluindo hits como “Quem de Nós Dois”, do álbum de estreia, homônimo, de 1999, até músicas inéditas como “Quem Dera Seus Zé”, onde Ana flerta com novos ritmos sem abandonar o Pop Romântico que a consagrou ao longo de 25 anos.
O setlist permaneceu praticamente o mesmo apresentado no show de agosto passado no Auditório Araújo Vianna — com exceção das faixas “Eu Comi a Madonna” e “Tempestade”, que ficaram de fora desta noite.
Apesar de a casa não estar completamente lotada, diferente do show anterior, no Auditório Araujo Vianna, é possível que a proximidade entre as datas tenha influenciado: ainda não havia tempo suficiente para criar aquele “vazio de saudade” que costuma lotar teatros. Além disso, o formato pista, embora dinâmico, também muda o comportamento do público tradicional de Ana.
*A velha questão do atraso e a performance técnica impecável
Ana Carolina, mais uma vez, atrasou para subir ao palco — um traço já habitual em sua carreira. Contudo, desta vez o atraso foi de cerca de 20 minutos, bem menor que o de agosto, quando chegou a ultrapassar uma hora e gerou vaias. Agora, o impacto foi perceptivelmente menor.
Quando o show começou, porém, a compensação veio: *a voz de Ana permaneceu impecável, limpa, afinada e sem apoio de playback. Nas interpretações — especialmente nos clássicos — ela entregou emoção em estado puro, reforçando porque mantém seu status de uma das grandes intérpretes da MPB recente.
*Uma banda de excelência e experimentações rítmicas intensas
A banda que acompanha Ana Carolina merece destaque especial. Todos os músicos estavam em plena sintonia, com execução impecável e arranjos que elevaram as canções a novos patamares:
* *Juliano Valle* – teclados e programação eletrônica
* *Theo Silva* – guitarras e violão
* *André Vasconcellos* – contrabaixo
* *Thiago Faria* – violoncelo
* *Cesinha* – bateria
* *Léo Reis* – percussão
Eles foram os responsáveis por momentos de forte transcendência musical, como na faixa “Quem Dera Seus Zé”, que mistura chorinho e samba, e no poderoso número de pandeiros em “Pandeiros Unidos”, que levantou o público. Já “Hoje Eu Tô Sozinha” ganhou roupagem com elementos de percussão e maracatu, ampliando o caráter brasileiro e rítmico da turnê.
*Entre perfeição técnica e distância emocional
Se musicalmente o espetáculo é irretocável, a única lacuna — já conhecida pelos fãs — continua sendo a pouca interação de Ana com o público. É o seu estilo: introspectiva, direta, sem muitos discursos ou improvisos. Mas isso também gera a dualidade do show: tão perfeito, tão ritmado, tão ajustado “no relógio”, que às vezes carece de calor humano.
O resultado é um espetáculo de início, meio e fim quase coreografado — belíssimo, grandioso, mas que por instantes pode parecer excessivamente metronômico. Falta a espontaneidade que poderia elevar ainda mais sua presença de palco e consolidá-la como uma das maiores intérpretes de todos os tempos.
*O que “25 Anas” sinaliza para o futuro
Dirigido pelo mesmo Jorge Farjalla que esteve à frente do aclamado “Ana Canta Cássia – Se Eu Não Me Apaixonasse por Você”, a turnê reafirma a força artística de Ana Carolina. Musicalmente, entrega um recorte honesto e robusto de sua carreira, ao mesmo tempo em que abre portas para novas experimentações que podem guiar seus próximos passos.
É um espetáculo que celebra o passado, aponta para o futuro e, sobretudo, reforça que Ana Carolina — impecável na voz e na técnica — segue em plena forma, mesmo que ainda falte um pouco de calor para transformar a apresentação perfeita em inesquecível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Saruê Festival de Natal neste domingo, comemorando os 90 anos da Redenção

Foto: Google O “Saruê Festival de Natal” celebra os 90 anos do Parque Farroupilha (Redenção) com cultura, música e solidariedade neste domi...