Texto: Cássio Toledo / Na Ponta da Agulha
Fotos: Instagram
Por mais que se venda como um evento “de olho no presente”, o *Prime Rock Brasil*, realizado recentemente no Parque Farroupilha, em Porto Alegre, no sábado, dia 24 de novembro, mostrou exatamente o contrário: um festival preso ao passado, dependente de nomes clássicos dos anos 1980 e incapaz de abrir espaço para a nova geração do Rock Nacional — uma geração pulsante, criativa. Talvez não seria perfeitamente capaz de erguer um festival inteiro, entretanto, poderia ser muito bem mesclado, como provam o Black Pantera, The Monic e tantos outros.
O público? Majoritariamente acima dos 45, quase 50 anos. Jovens? Poucos. E isso não é falta de interesse — é falta de oportunidade. É sintoma de um mercado que ainda não permite que novas bandas assumam o posto de headliners. Um ciclo que se retroalimenta e mantém tudo exatamente como está.
*Entre sol escaldante, nostalgia e tropeços vocais*
*TNT – Energia no palco, tropeços na voz
Sob quase 35ºC, o TNT abriu o festival para um público ainda tímido. Animados no palco, mas tecnicamente irregulares, Charles Master e Luis Henrique “Tchê” Gomes enfrentaram sérios problemas vocais, desafinando em grande parte do show.
*Blitz – Carisma sim, identidade nem tanto
Evandro Mesquita segurou a plateia com seu carisma habitual, mas a apresentação soou mais como uma banda cover de luxo: muitos hits dos anos 1980… porém de outras bandas. “Sonífera Ilha” dos Titãs foi símbolo disso. Vários clássicos da própria Blitz ficaram de fora.
*Nenhum de Nós – 40 anos celebrados com performance abaixo do esperado
Comemorando quatro décadas de carreira, a banda entregou um show tecnicamente inferior à sua história. Thedy Corrêa passou boa parte da apresentação desafinado e tendo dificuldades em alcançar notas mais altas — algo percebido e comentado por muitos presentes.
*O respiro de qualidade: Paula Toller e Biquíni Cavadão
*Paula Toller – Competência vocal e presença de palco
Com seus 63 anos, Paula Toller surpreendeu com uma performance forte, bem cantada (sem uso de playback), repertório afiado e ótimo domínio de palco. “Como Eu Quero” e “Fixação” levantaram o público.
*Biquíni Cavadão – Show vibrante e teatral
Bruno, sempre comunicativo, entregou pirotecnias, teatralidade e proximidade com o público — chegando a ser carregado pela galera. Uma das apresentações mais energéticas da noite, que ajudou a espantar o frio que chegou após o pôr do sol.
*Capital Inicial – O ápice emocional da noite
Era visível: grande parte das mais de 15 mil pessoas presentes estava lá pelo Capital Inicial. A banda celebrou os 30 anos do seu icônico “Acústico MTV”, o álbum divisor de águas em sua carreira.
Dinho Ouro Preto contou histórias do impacto que a extinta Rádio Ipanema FM teve na trajetória da banda, especialmente com “Leve Desespero”, primeira música deles a tocar com força no Sul. A performance foi sólida, com Kiko Zambianchi como convidado especial.
Um show acústico legítimo, sentado, mas vibrante — a melhor conexão emocional do festival.
*Humberto Gessinger – Surpreendentemente morno
Comemorando os 20 anos do seu Acústico MTV, Humberto fez uma apresentação competente, porém distante. Pouco falou, pouco interagiu e, apesar da qualidade musical, entregou um dos shows menos marcantes do evento.
*Problemas estruturais e um debate urgente
Além do desequilíbrio artístico, o festival pecou na estrutura.
*Faltaram tomadas para carregamento de celulares*, dificultando especialmente o trabalho da imprensa que precisava registrar o evento.
Mesmo assim, o público expressivo garantiu o sucesso da edição — sucesso esse sustentado pelo apelo nostálgico. Assim como em Curitiba, o Prime Rock Brasil repete a fórmula que funciona comercialmente, mas que artisticamente estaciona no tempo.
*Conclusão: um festival que toca o passado, mas silencia o futuro
Com mais uma edição já confirmada, fica o desejo — e a necessidade — de ver o Prime Rock Brasil mesclando nomes clássicos com as bandas que hoje mantêm o Rock Brasileiro vivo, intenso e relevante.
*Porque enquanto os festivais permanecerem reféns da nostalgia, o futuro seguirá batendo na porta… sem ser convidado a entrar.



Nenhum comentário:
Postar um comentário